segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Diário de um escritor fora de si

10 de novembro de 2015
 

Olá,
mais uma vez.

Pra você, viajante do tempo, que encontrou mais um de meus textos espalhados por arquivos digitais ou analógicos, de um tempo em que nem eu mesma me (re)lia.

Quantas vezes sentei aqui e disse pra mim mesma que começaria a escrever meu livro? Mas as palavras, em vez de serem escritas, voltam para dentro de mim. Apagadas e inseridas dentro de mim, em cada pedaço da minha estrutura química, lá estão escritas.

Também já mencionei a tantos amigos que estava escrevendo um livro, mas a verdade é que nenhuma das palavras do livro conseguiram sair de mim de verdade. É um processo contínuo de autoenganação ou como você prefira chamar. O livro, a essa altura, talvez nem exista mais. Eu não tenho mais controle algum sobre o livro.



11 de novembro de 2015

Mais um dia...

Tomei um clonazepam inteiro há meia hora. Observo um outro comprimido me encarando do outro lado da mesa e que, farejando a iminência de um ataque de ansiedade, vem se aproximando centímetro por centímetro até que minha mão esquerda o possa alcançar.

Não há cigarros pela casa. Talvez eu possa culpar minha possível próxima crise pela dependência de nicotina. Alguém acreditará em mim?

Sinto como se tivesse voltado à estaca zero no meu recente progresso emocional. Eu sei que a impressão que tenho não é mais que um momento de cegueira - talvez amanhã ou depois as coisas voltem ao normal.

Tenho trabalhado em alguns trabalhos encomendados, isso ocupa a minha a cabeça e me dá a falsa noção de que eventualmente terei dinheiro para fazer a maioria das coisas que sempre quis ter. What a fool.

Que sejam fechadas as portas! Que a vida venha e faça de mim o que quiser! Que me prive, que me maltrate! Há algum tempo comecei a aceitar que, eu não tenho controle algum da minha vida.



16 de novembro de 2015

Preciso mesmo cumprimentar o meu diário mais uma vez? É como dar bom dia para alguém que dormiu ao seu lado.

Essa montanha russa. Ao mesmo tempo que é libertador resolver pendências, encaixar todas as peças emocionais corretamente, é assustador. É sobrecarga e é paradoxal - enquanto esvazio as mágoas passadas ou recentes, sinto tudo mais uma vez antes de expelir. 

E nada posso esperar além de que da explosão surja uma nova e brilhante estrela.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Sobre mim

De onde vem seu nome?

Meu nome, Ranayana, apesar de parecer com mil coisas, que eu saiba, não tem origem ou significado nenhum. Foi escolhido pela minha mãe, que também escolheu nomes estranhos para os outros filhos. Depois de muito bullying na infância, passei a gostar do nome. É excêntrico e raro.
O sobrenome Almeida, por outro lado, é bem comum. Era o sobrenome do meu avô materno, que nunca conheci (ele morreu quando minha mãe tinha apenas 16 anos), e desde bem pequena ela sempre me contava histórias de como ele era um homem bom. O pai mais bondoso, carinhoso e firme que já existiu. Se um dia eu tiver um filho, espero poder dá-lo o nome do meu avô - Antonio.

Qual é a sua altura?

1,69. Achava que ia crescer mais que isso, mas ok, né...

Qual a cor do seu cabelo?

Originalmente, segundo cabeleireiros, loiro escuro acinzentado. Desde 2011 pinto o cabelo de ruivo.

Qual seu perfume preferido? 

Gosto do cheiro de lírios.

Qual seu livro preferido?

A valsa dos adeuses, de Milan Kundera.

Se você pudesse conhecer qualquer pessoa, quem seria?

Serge Gainsbourg (que morreu há muito tempo, apesar de aparecer nos meus sonhos)

Pegue o livro mais próximo de você e abra-o na página 23. Transcreva a linha 17.

Nesses assuntos/ o melhor é nada ver.

No que você mais pensa? 

Em viajar.

Alguém já escreveu um poema ou uma música que tenham tido você como inspiração? 

Já, poemas e músicas. :)

Você tem alguma fobia?

Larvas, minhocas, vermes etc. Odeio qualquer tipo de bicho que pareça que vá se infiltrar na sua pele.

Qual é a sua religião?

Desde criança eu era fascinada com a ideia de encontrar um deus. Era, para mim, a existência de magia. Segui vários segmentos do cristianismo por algum tempo, pesquisei outras religiões. O resultado de tudo: silêncio. Então decidi esquecer a procura e absorver apenas os aspectos positivos que encontrei em cada religião - do cristianismo ao taoísmo, e, exatamente por isso, vejo a religião como uma muleta, mas é necessário deixar claro que não vejo essa muleta de uma forma negativa.

Se você está fora de casa, o que é provável que esteja fazendo?

Bebendo.

Banda favorita? E cantor(a)?

Arcade Fire. Tom Waits.

Quais são suas maiores fraquezas e suas maiores forças?

Fraquezas (nas quais estou trabalhando): complexo de inferioridade, tendência a criar comparações, baixa autoestima, desorganização, falta de determinação, arrogância.

Forças: self-awareness, sensibilidade, inteligência, capacidade empática, capacidade de assumir que estou errada.

Como você libera a sua raiva?

Bebendo, fumando, machucando a minha própria pele e, por vezes, agindo de forma pueril e vingativa.

Se você pudesse se transformar em um animal, que animal você seria? 

Uma raposa ou um honey badger.

Você coleciona alguma coisa? 

Canecas.

Você está feliz com a pessoa que se tornou? 

Sim, muito.

Diga um som que você odeia e outro que você ama.

Odeio gritos em discussões.
Amo o som dos carros e pessoas de manhã cedo indo para o trabalho, aula...

Você acredita em paranormalidade? E alienígenas?

Paranormalidade, realmente não sei. Alienígenas: probabilisticamente falando, acredito que há formas de vida (não necessariamente como imaginamos e vemos nos filmes de ficção) num universo tão grande.

Estique seu braço direito. Qual é a primeira coisa que alcança?

Uma carteira de marlboro vermelho.

Faça o mesmo com o braço esquerdo.

Uma caneca de café.

Inspire profundamente, que cheiro você sente?

Meu próprio cheiro.

Qual é o pior lugar em que já esteve? 

Não consigo imaginar nenhum lugar específico, mas as casas de algumas pessoas me passam uma energia ruim.

Para você qual é o propósito da vida? Onde devemos chegar e o que fazer?

Viver, existir. Não há caminho certo, fórmula certa. Produzir algo que contribua, mesmo que muito muito muito minimamente, com a história do universo.

Você dirige? Se sim, já bateu com um carro?

Não dirijo.

Qual o pior machucado que você já teve?

Quebrei uma janela com a mão aberta. Tenho uma cicatriz de aproximadamente uns 10 cm.

Você tem alguma obsessão?

Adivinhar finais de jogos, filmes, livros e séries. Adivinhar a intenção das pessoas. Descobrir segredos de outras pessoas. Acho que isso pode ser resumido com "obsessão em saber de tudo antes das outras pessoas".

Você costuma guardar rancor de pessoas que te fizeram algum mal, direta ou indiretamente?

Tento deixar ir embora e o tempo é muito bom (na maioria das vezes muito eficiente) com isso.
Mas, claro, algumas vezes guardo uma pequena fração do rancor dentro de mim... e às vezes demoram anos até que se vá embora.

Qual o seu signo? Você acredita em astrologia?

Aquário com ascendente em Gêmeos e lua em Aquário. Vênus em Sagitário. Não acredito de todo (nunca acredito piamente em nada), mas acho interessante. Segundo a astrologia eu sou uma pessoa muito muito inteligente, liberal e cabeça aberta. Acho que não faz mal acreditar nisso aí... hahahaha

Qual foi a última coisa que você comprou?

Ingredientes para fazer chocolate quente.

Amor ou luxúria? 

Os dois, em excesso.

Qual é sua arma secreta para fazer com que as pessoas gostem de você?

Simpatia. Usada cuidadosamente, sinceramente e seletivamente com pessoas que eu quero ao meu redor.
O resto que se foda.

Onde está seu melhor amigo agora?

No seu home office, na sala ao lado de onde estou.

Você é o tipo de pessoa que gostaria de ter como amiga?

Óbvio.

Qual música faz você se sentir feliz? 

https://open.spotify.com/user/1281531263/playlist/6MYyW7K2SrwJxEhywEqtvR

Na sua opinião, o que faz um relacionamento ser especial? 

Compatibilidade sexual e intelectual.

O que te atrai?

Conhecimento.

O que você quer que esteja escrito no seu epitáfio? 

Talvez seja clichê, mas Edgar Allan Poe foi minha primeira paixão literária...

"All that we see or seem is but a dream within a dream"

Ou, mais curto e objetivo (e que tenho gravado na pele):

"Es muss sein"

Quais são suas cores preferidas?

Azul e preto.

Se você pudesse escolher dois superpoderes, quais seriam? 

Onisciência conta como superpoder? E invisibilidade, claro.

Quem é sua atriz preferida?

Fico entre Emma Stone e Ellen Page.

Qual o seu filme preferido?

Sonhos, de Akira Kurosawa.

O que você queria ser quando crescesse?

Astronauta.

Qual sua flor preferida?

Begônias.

Por último, que palavra te define? 

outsider.



terça-feira, 27 de outubro de 2015

CATIVA

Tantos meses mantida em cativeiro,
em um quarto escuro,
eu não lembrava mais como era meu corpo,
a cor da minha pele ou a beleza do meu rosto.
O passado parecia um borrão,
especialmente quando se tratava de lembrar-me de quem eu era,
o meu nome,
o meu gosto,
as minha obsessões
e os meus desejos.
Até minha ideologia.
Naquele quarto escuro,
eu não conseguia lembrar-me da minha ideologia.
Perdi a noção do tempo.
A comida, no escuro, não tinha gosto.
Todos os dias deitada naquele chão que eu nem conseguia enxergar.
As vozes e os sons que ouvia de fora me deixavam em pânico,
mas eu não conseguia gritar...
só chorar em silêncio,
enquanto eu arranhava minha própria pele
para não esquecer de que eu ainda estava ali.

Em vão.
Aquela não era a minha própria pele.

terça-feira, 29 de setembro de 2015

MEDÍOCRE

Quando eu te encontrei, meu amor,
naquela noite tão comum de nossas vidas
nada brilhou, a lua não apareceu
nosso primeiro beijo nunca aconteceu
porque eu desviei o rosto
e o beijo que aconteceu depois
não mexeu com meu estômago
não mudou minha vida.

Daquela noite, não me recordo de quase nada
só de como eu odiava o vestido que eu usava
e de que tu fumavas um cigarro ruim.
No dia seguinte, acordei em tua cama
leito comum
de tantas outras
e segui para o trabalho.

A vida foi juntando nossos dias
porque era conveniente
e nós casamos
sem nenhuma comemoração
só pra eu oficialmente cuidar de tua casa.
O tempo foi passando
Os filhos foram nascendo
e eu só era feliz e sossegada quando tu viajavas
porque eu podia culpar a distância pela falta de amor em nosso lar.

Agora teu rosto me é feio novamente
e não faz diferença se estás aqui.

terça-feira, 19 de maio de 2015

LAPSO

Eu poderia jurar que aquele pedaço de papel pesava mais do que realmente deveria.

E no meu caminho, a bolsa pendia com aquele peso, a aflição de compreender o que realmente estava escrito ali, porque até então eu só tinha passado os olhos por aquelas palavras.

Pela cidade, eu conseguia enxergar os cartazes de "Procurado" colados nos postes - nestes não havia minha foto, sequer meu nome ou alguma descrição das minhas características físicas, mas eu sabia que era eu.

É por isso que o papel pesava, eu estava ali.

Percebi que a minha respiração estava diferente, eu ponderava o futuro, como eu deveria lidar com aquilo.

Li e reli algumas vezes.

Até que percebi.

O telefone tocou. Era engano.

E tudo voltou ao estado normal.

domingo, 26 de abril de 2015

PRODITÓRIO

Abrir os olhos com toda essa luz
A princípio, machuca
Tudo se preenche com luz, com verdades
e deixar minha quimera e o meu mundo ideal é doloroso

Aqui, sinto o sangue correr rapidamente
Insatisfação corre pelo meu corpo
Cigarro após cigarro
Amaldiçoando um dito popular

No limbo das minhas próprias decisões
Não sei se nos teus abraços oníricos
Não sei se no teu colo de perfídia

Mas é aqui que estou
Apesar de tudo, 
Vulpina dessa história.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

PALAVRAS

Guardo uma a uma todas as tuas palavras
até as palavras que não dirigistes a mim,
mas a outras.
Estas,
inclusive,
são as mais importantes,
pois é nelas que encontro toda a incoerência do teu discurso.
Mantenho todas elas em uma pasta como um dossiê, 
que só revelarei no dia de teu julgamento
(e neste dia eu bem sei como você tentará se defender de cada prova).
Porque sei ler pessoas,
sei ler você,
sei ler intenções,
sei ler o que há por trás das palavras.
E não me diga que não há ciência ou raciocínio lógico
Não é um simples engano de esposa paranoica 
julgar que há mais nas palavras do que elas foram ditas
há todo um contexto por trás do que é dito 
e se você tivesse um pequeno conhecimento do assunto
saberia que tentar me enganar é um esforço em vão
(são anos de estudos e leituras)
Mas eu te entendo,
é o único argumento que te resta.
Sem ele, você não tem nenhuma defesa.

Guardo todas as palavras,
principalmente as que li secretamente.
Engulo todas elas
e mais alguns comprimidos.

terça-feira, 24 de março de 2015

COMUNICAÇÃO EXTRATERRESTRE

Houston, we've had a problem here

estou perdendo contato

e há ruído na comunicação

Minha órbita foi modificada

e sinto que minha nave está cada vez mais distante da Terra

perdi conexões importantes,

mas a informação principal

é que

começo a esquecer 

de como era a vida antes

Aqui, isolado

nesse espaço infinito

muito mais interessante

Há apenas lógica e linguagem

Linguagem, não comunicação

Eu ainda consigo visualizar a Terra

e o que acontece nela

Mas não sinto muito

E temo às vezes

que entre a humanidade e eu

há apenas um fio irregular de emoção

Quão forte ele será?

...

.....

........

sábado, 7 de março de 2015

DEZEMBRO

Quando o mês de dezembro chegava meus olhos se fixavam na varanda - era tempo em que a cidade inteira começava a montar na rua as barracas de quermesse e o tão brilhante parque de diversões. Ouvia o tilintar dos martelos nos metais que soavam com a beleza de uma música atonal.

Dezembro sempre significava muita coisa. O fim de um ano ruim. A possibilidade de um futuro bom no ano que seguia. A ansiedade por janeiro, mês do meu aniversário, o sonho de presentes, a esperança de que a família magicamente mudasse para sempre e não brigassem nunca mais.

As outras crianças brincavam lá embaixo, corriam juntas, soltas. Mas eu corria para a varanda para ver e ouvir de cima e sozinha aquele sonho de metal que se colocava de pé na minha rua. Brinquedos enferrujados, velhos, coloridos, bonitos, mágicos, como meus sonhos.

IGNOTA

Carrego:
Olhos cansados
ansiedade
e comprimidos cor de céu.

Mas o que mais pesa é o que está ausente.
O coração vazio
O coração farto.

As esperanças que um dia tive, agora esperam outros
O caminho da tua casa não faz mais sentido:
É o caminho de outra pessoa.

Lágrima presa no olho
Não consigo ver
Preciso aceitar o pranto
Assim enxergarei novamente.

INSÍPIDA

Um cigarro:
a fumaça penetra os pulmões
e o corpo fica lânguido.
Escuto a cidade:
os carros apressados,
o som de ondas de um mar urbano.
A alma insípida:
o discreto tédio de quem não está apaixonado.

HESITO

[Primeira hesitação:
Nunca voltarei]

A caminho da minha cidade natal, observo ao longo da estrada todas as novidades. Em frente à igreja, uma nova pracinha é construída. Mas a casa dos meus pais permanece a mesma. Dezembro chegou e me trouxe consigo para onde vivi por tanto tempo.

Meu pai ainda é o mesmo - o que come, os dias da semana em que bebe, os cochilos após o almoço, o tom de voz... As expressões da minha mãe permanecem as mesmas, as mesmas chantagens com apelo emocional, as mesmas preocupações.

Aos poucos, enquanto permaneço, sinto as mãos dos mortos - esperanças mortas - que apertam meu calcanhar e me puxam para o subsolo. Pretendem me enterrar.

Vou embora.
Nunca voltarei.

[Segunda hesitação:
Não amarei]

De volta à cidade, onde meus átomos, por segurança, permaneceram durante a minha estadia na cidade fantasma (é preciso ser um fantasma para enfrentá-los), sigo para um encontro.

Estendo os pés, cruzados, em cima do sofá. Cavidades completa e cuidadosamente expostas. Aqui, aparentemente, não há nenhum temor.

Mas há.

Os fluidos transitam de um corpo para o outro. O espírito de Laura e a metáfora do piano branco tomam conta de mim - eles querem que a vida seja tudo, ou vão embora. De súbito, sinto que me entrego: eis meu corpo, eis meus 60kg, como sinal do meu... amor?

Vou embora.
Não.
Amarei.

DOMICÍLIO

Silêncio e cinzas pela casa
O curto tempo atravessa nossa matéria

Presos nas nossas percepções distantes
Estamos próximos

Na janela da sala, o vento forte
Na pia do banheiro, a água escorre

Nossas mãos estão frias.

sexta-feira, 6 de março de 2015

NEEDS OF A COSMIC WRITER

I need time and space
So the sound waves could not propagate

In the middle of the cosmic emptiness

I shall not hear empty words
While mine
Launch to another space and time

In the middle of the profusion of the sounds 
I hear now
I can’t hear my own sounds 
Besides the cosmic is matter enough 
And the silence is the concrete of this poem

In the middle of the vacuum 
I can feel my own emptiness 

Without matter 
Within the vacuum 
Without sound waves 
Within the silence 
Without sight 
Within my empty universe self 
I can create 
A whole new cosmos 
A million light years away