terça-feira, 24 de março de 2015

COMUNICAÇÃO EXTRATERRESTRE

Houston, we've had a problem here

estou perdendo contato

e há ruído na comunicação

Minha órbita foi modificada

e sinto que minha nave está cada vez mais distante da Terra

perdi conexões importantes,

mas a informação principal

é que

começo a esquecer 

de como era a vida antes

Aqui, isolado

nesse espaço infinito

muito mais interessante

Há apenas lógica e linguagem

Linguagem, não comunicação

Eu ainda consigo visualizar a Terra

e o que acontece nela

Mas não sinto muito

E temo às vezes

que entre a humanidade e eu

há apenas um fio irregular de emoção

Quão forte ele será?

...

.....

........

sábado, 7 de março de 2015

DEZEMBRO

Quando o mês de dezembro chegava meus olhos se fixavam na varanda - era tempo em que a cidade inteira começava a montar na rua as barracas de quermesse e o tão brilhante parque de diversões. Ouvia o tilintar dos martelos nos metais que soavam com a beleza de uma música atonal.

Dezembro sempre significava muita coisa. O fim de um ano ruim. A possibilidade de um futuro bom no ano que seguia. A ansiedade por janeiro, mês do meu aniversário, o sonho de presentes, a esperança de que a família magicamente mudasse para sempre e não brigassem nunca mais.

As outras crianças brincavam lá embaixo, corriam juntas, soltas. Mas eu corria para a varanda para ver e ouvir de cima e sozinha aquele sonho de metal que se colocava de pé na minha rua. Brinquedos enferrujados, velhos, coloridos, bonitos, mágicos, como meus sonhos.

IGNOTA

Carrego:
Olhos cansados
ansiedade
e comprimidos cor de céu.

Mas o que mais pesa é o que está ausente.
O coração vazio
O coração farto.

As esperanças que um dia tive, agora esperam outros
O caminho da tua casa não faz mais sentido:
É o caminho de outra pessoa.

Lágrima presa no olho
Não consigo ver
Preciso aceitar o pranto
Assim enxergarei novamente.

INSÍPIDA

Um cigarro:
a fumaça penetra os pulmões
e o corpo fica lânguido.
Escuto a cidade:
os carros apressados,
o som de ondas de um mar urbano.
A alma insípida:
o discreto tédio de quem não está apaixonado.

HESITO

[Primeira hesitação:
Nunca voltarei]

A caminho da minha cidade natal, observo ao longo da estrada todas as novidades. Em frente à igreja, uma nova pracinha é construída. Mas a casa dos meus pais permanece a mesma. Dezembro chegou e me trouxe consigo para onde vivi por tanto tempo.

Meu pai ainda é o mesmo - o que come, os dias da semana em que bebe, os cochilos após o almoço, o tom de voz... As expressões da minha mãe permanecem as mesmas, as mesmas chantagens com apelo emocional, as mesmas preocupações.

Aos poucos, enquanto permaneço, sinto as mãos dos mortos - esperanças mortas - que apertam meu calcanhar e me puxam para o subsolo. Pretendem me enterrar.

Vou embora.
Nunca voltarei.

[Segunda hesitação:
Não amarei]

De volta à cidade, onde meus átomos, por segurança, permaneceram durante a minha estadia na cidade fantasma (é preciso ser um fantasma para enfrentá-los), sigo para um encontro.

Estendo os pés, cruzados, em cima do sofá. Cavidades completa e cuidadosamente expostas. Aqui, aparentemente, não há nenhum temor.

Mas há.

Os fluidos transitam de um corpo para o outro. O espírito de Laura e a metáfora do piano branco tomam conta de mim - eles querem que a vida seja tudo, ou vão embora. De súbito, sinto que me entrego: eis meu corpo, eis meus 60kg, como sinal do meu... amor?

Vou embora.
Não.
Amarei.

DOMICÍLIO

Silêncio e cinzas pela casa
O curto tempo atravessa nossa matéria

Presos nas nossas percepções distantes
Estamos próximos

Na janela da sala, o vento forte
Na pia do banheiro, a água escorre

Nossas mãos estão frias.

sexta-feira, 6 de março de 2015

NEEDS OF A COSMIC WRITER

I need time and space
So the sound waves could not propagate

In the middle of the cosmic emptiness

I shall not hear empty words
While mine
Launch to another space and time

In the middle of the profusion of the sounds 
I hear now
I can’t hear my own sounds 
Besides the cosmic is matter enough 
And the silence is the concrete of this poem

In the middle of the vacuum 
I can feel my own emptiness 

Without matter 
Within the vacuum 
Without sound waves 
Within the silence 
Without sight 
Within my empty universe self 
I can create 
A whole new cosmos 
A million light years away