[Primeira hesitação:
Nunca voltarei]
A caminho da minha cidade natal, observo ao longo da estrada todas as novidades. Em frente à igreja, uma nova pracinha é construída. Mas a casa dos meus pais permanece a mesma. Dezembro chegou e me trouxe consigo para onde vivi por tanto tempo.
Meu pai ainda é o mesmo - o que come, os dias da semana em que bebe, os cochilos após o almoço, o tom de voz... As expressões da minha mãe permanecem as mesmas, as mesmas chantagens com apelo emocional, as mesmas preocupações.
Aos poucos, enquanto permaneço, sinto as mãos dos mortos - esperanças mortas - que apertam meu calcanhar e me puxam para o subsolo. Pretendem me enterrar.
Vou embora.
Nunca voltarei.
[Segunda hesitação:
Não amarei]
De volta à cidade, onde meus átomos, por segurança, permaneceram durante a minha estadia na cidade fantasma (é preciso ser um fantasma para enfrentá-los), sigo para um encontro.
Estendo os pés, cruzados, em cima do sofá. Cavidades completa e cuidadosamente expostas. Aqui, aparentemente, não há nenhum temor.
Mas há.
Os fluidos transitam de um corpo para o outro. O espírito de Laura e a metáfora do piano branco tomam conta de mim - eles querem que a vida seja tudo, ou vão embora. De súbito, sinto que me entrego: eis meu corpo, eis meus 60kg, como sinal do meu... amor?
Vou embora.
Não.
Amarei.
"Vou embora.
ResponderExcluirNão.
Amarei"
<3
muito bom isso!