terça-feira, 27 de outubro de 2015

CATIVA

Tantos meses mantida em cativeiro,
em um quarto escuro,
eu não lembrava mais como era meu corpo,
a cor da minha pele ou a beleza do meu rosto.
O passado parecia um borrão,
especialmente quando se tratava de lembrar-me de quem eu era,
o meu nome,
o meu gosto,
as minha obsessões
e os meus desejos.
Até minha ideologia.
Naquele quarto escuro,
eu não conseguia lembrar-me da minha ideologia.
Perdi a noção do tempo.
A comida, no escuro, não tinha gosto.
Todos os dias deitada naquele chão que eu nem conseguia enxergar.
As vozes e os sons que ouvia de fora me deixavam em pânico,
mas eu não conseguia gritar...
só chorar em silêncio,
enquanto eu arranhava minha própria pele
para não esquecer de que eu ainda estava ali.

Em vão.
Aquela não era a minha própria pele.

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